São exatamente 6:30 da manhã. E lá está ela novamente com seu fone no ouvido,
livro na mão e a famosa xícara de café ao lado (na verdade ela sempre esteve
ali... eu que nunca havia percebido). A visão da janela do meu quarto é perfeita.
Se tornou um costume meu admirar aquela cena. Rotina-das-minhas-manhãs.
Mas, como toda história tem um começo, aqui vai: tudo começou em um dos piores
dias já vividos por mim. Senão, o pior. Andava de um lado pra outro na busca incessante de encontrar algo que ocupasse a minha mente, algo que levasse pra longe aquelas imagens e palavras tortuosas que insistiam em permanecer... Tudo em vão. O relógio, então, passou a ser o meu companheiro fiel. Que belo companheiro eu arranjei... ao invés de ajudar, só atrapalhava. Desejava tanto que cada segundo, minuto, hora, passasse rápido... Mas o meu companheiro passou de fiel a traidor. A noite chegou e o tempo insistia em ser devagar. Resumindo: meus olhos não fechavam e nem meus pensamentos repousavam. Rolava de um lado para outro entre os lençóis da cama.
Amanheceu. E milagrosamente lá estava eu às 6:25 com os olhos "vidrados" no teto do meu quarto (geralmente nesse horário meu "repouso" era constante). De repente, como uma vontade que surge subitamente, me deparo abrindo a janela do meu quarto e um "clarão" invade aquele lugar escuro e me aquece, tomando conta de todo meu corpo. Fechei os olhos e comecei a sentir mais leve a "carga" que trazia nas costas. Uma sensação inexplicável até aquele momento.
E no abrir dos meus olhos, lá estava ela. Era exatamente 6:30 da manhã. Ela, seu fone de ouvido, uma xícara de café e um livro (bem volumoso, por sinal). Mas o que mais impressionava era o prazer com que ela lia cada página daquele livro misterioso, a alegria e o valor que ela dava naquele momento, naquela rotina-de-todo-dia. Aquela situação começou a provocar curiosidades em mim. Me senti instigada a querer entender aquela mulher e o que de tão importante ela lia naquele tal livro. Foi então que decidi ir até ela.
A primeira reação foi de espanto (minha). Ela me recebeu de uma forma tão calorosa, tão humana... mesmo não me conhecendo. Comecei a me perguntar: "Como pode? Como alguém que não conhece outrem pode transmitir tanto amor e cuidado?". Aquilo me incomodava porque durante a minha vida toda, ninguém nunca havia me tratado assim. Nem os próprios que se diziam meus amigos. E ela, mesmo sem saber do que se passava aqui dentro, mesmo sem me conhecer, me recebeu de braços abertos. Foi então que ela disse: "Sei que perguntas pairam na sua cabeça. Sei que durante esses últimos dias você anda me observando".
É. ela tinha razão. Aproveitei e apontei em direção ao livro que ela segurava no colo. Ela então disse: "Esse aqui é o segredo da minha alegria. Ele que preenche os vazios da minha alma. Que me traz paz. Um livro chamado Bíblia". Fiquei estagnada. Aproveitei e fiz uma pergunta: "Mas por que aqui? Por que esse lugar? Por que todos os dias às 6:30?" Ela então disse: "Não sei dizer ao certo o porque desse lugar e o porque do horário... eu simplesmente venho!
Existem coisas que fogem ao entendimento humano".
Desde esse dia a minha vida nunca mais foi a mesma. Aquela tristeza que assolava a minha alma nunca mais se fez presente. Aprendi com aquela mulher a valorizar pequenas coisas. Principalmente a apreciar aquele livro volumoso chamado Bíblia.
(Flávia)
(Flávia)